sábado, 30 de abril de 2016

A cidade perfeita...

Há algum tempo, num tema de catequese, fiquei impressionado com a imaginação que os jovens nos podem presentear, refiro me à autora desta história, uma jovem de 15 anos. A ela o meu agradecimento por esta bela história...

"Era uma vez, num futuro longínquo, uma cidade quase perfeita. Não existiam malfeitores ou preguiçosos, não havia poluição, trânsito ou degradação. À primeira vista tudo era perfeito. 
Na cidade quase perfeita, em frente de cada casa estava uma bandeira. As bandeiras podiam ser vermelhas, amarelas, brancas ou negras. E apesar de não ser obrigatório, fazia parte do senso comum, uma habitação ter a sua bandeira. E porquê? E todas as habitações sem excepção a tinham. 
A bandeira, indicava a cor da pele da família que aí vivia. E por existirem bandeiras com quatro cores possíveis é que a cidade era quase perfeita. Assim pensavam os seus habitantes. Mas, seria? 
As pessoas de pele branca só gostavam de bandeiras brancas e orgulhavam-se da bandeira 
que tinham em frente da sua casa. Da mesma forma pensavam as pessoas de outras cores. As crianças de cores diferentes não brincavam juntas, os adultos de cores diferentes diziam "Olá" e "Bom dia", mas a conversa já não chegava ao "como está?". Isto é, na cidade quase perfeita a cor da bandeira seria para identificar quem eram os possíveis amigos. Mas acontecia que, todos os meses, na cidade quase perfeita havia uma reunião com todos os habitantes da cidade. Era liderada pelo Presidente da Câmara e realizava-se, num edifício do tamanho de dois estádios de futebol. O edifício chamava-se, o Individual. Era assim, que se procurava manter a quase perfeição da cidade. “O Individual”, que tinha apenas uma só grande porta simbolizava o poder e a singularidade da cidade. 
Num certo dia de Inverno, caía um forte nevão na cidade quase perfeita, mas nem por isso se adiou a grande reunião. Encontrava-se a cidade em peso no Individual, quando se ouviu um enorme estrondo, algo de sobrenatural. Um milésimo de segundo depois, todo o Individual ficou às escuras, gerou-se o pânico entre as 33000 pessoas que começaram numa correria desenfreada para a grande entrada; só que a porta não abria. Sem ver o seu auditório, o Presidente, com sangue frio, apercebeu-se do perigo da situação: nunca na cidade quase perfeita alguém tinha assistido a uma falha de electricidade; as pessoas atropelavam-se e poderia mesmo haver mortes por esmagamento. 
Rapidamente dá a mão à pessoa que estava a seu lado, que por sua vez percebeu a mensagem: formou-se um grande cordão humano dentro do Individual. “Calma, calma” ouviu-se. Sem olhar à cor da mão em que se segurava, apenas agarrando-a, sabendo que essa mão poderia salvar a sua vida, todos se acalmaram, e a extremidade do cordão ao pé da porta conseguiu arrombá-la. 
Lentamente, a multidão saiu do Individual para a neve gélida. Uma a uma, as pessoas apercebem-se de que a mão que seguravam não era da sua cor. No entanto, agarraram-na com igual força. Dentro do Individual, às escuras, o cordão humano tinha permitido que as pessoas, uma vez cá fora, se apercebessem de que a sua cidade só era quase perfeita. Até àquele dia, ninguém se tinha apercebido de que uma mão negra, branca, amarela ou vermelha tem a mesma força para agarrar, seja às escuras seja às claras."

(Joana Rute, 15 anos) 

  •  Que vos diz esta história? 
  • Que nomes concretos dariam a essas bandeiras? 
  • Que bandeiras coloco eu nos outros? 
  • Que preconceitos tenho eu das pessoas que vejo, na sociedade em que vivo, na minha turma, no meu bairro em que vivo, nas pessoas que eu conheço? 

Fonte: Somos +, Catequese 8.º ano
Imagem: Internet

A cana de bambu

Enquanto era jovem e bonito, o bambu vivia e crescia só para si mesmo e amava somente a sua beleza e bem-estar. Numa palavra, era egoísta. Depois, pelo contrário, despojado de toda a sua beleza, inclusive da sua própria vida, tornou-se num canal, que o Senhor usou para tornar fecundo e fértil os seus campos.


Conta uma antiga lenda chinesa que havia um lindo jardim, onde o seu Senhor costumava passear diariamente quando o calor apertava. Nesse jardim existia um lindo “bambu”, que era sem dúvida a planta mais bonita. Dia após dia, o bambu crescia e tornava-se cada vez mais gracioso. Mas, apesar disso, o bambu sentia que não era feliz... faltava-lhe alguma coisa.
Um dia, o Senhor, muito preocupado, aproximou-se da sua árvore muito querida e o bambu com grande veneração baixou a cabeça. O Senhor disse-lhe: “Meu querido bambu, vou precisar de ti!” O bambu sentiu que tinha chegado o seu momento, o dia para o qual tinha nascido. Com grande alegria, mas baixinho, respondeu: “Estou pronto, Senhor, faz de mim o que quiseres.”
 “Bambu, para servir-me de ti, é necessário abater-te”, disse o Senhor em voz séria.
O bambu ficou assustado e respondeu: “Abater-me, Senhor, depois de me teres tornado na árvore mais bonita do teu jardim? Não, por favor, não faças isso! Usa-me para tua alegria, mas, por favor, não me abatas.”
“Meu querido bambu, sem abater-te não te poderei usar”, disse-lhe o Senhor.
Fez-se um grande silêncio. O vento parou de soprar e os passarinhos de cantar. Então o bambu baixou ainda mais a cabeça e suspirou: “Senhor, se não me podes usar sem que me abatas, então faz de mim o que quiseres.”
 “Meu querido bambu, não devo somente abater-te, mas devo também cortar as tuas folhas e os ramos”, disse-lhe o Senhor.
            “O Senhor, não faças isso comigo... deixa-me ao menos as folhas e os ramos”, suplicou o bambu.
“Se não queres que os corte, não poderei usar-te.” Neste momento o Sol escondeu-se e os passarinhos voaram para longe. Então o bambu, já com uma voz muito fraca, disse: “Senhor, então corta-me as folhas e os ramos, se assim achares necessário.”
 “Meu querido, tenho ainda que fazer uma outra coisa. Devo rachar-te em duas partes e arrancar-te o coração. Se não o fizer, não te poderei usar.”
O bambu ficou sem palavras e baixou a sua linda cabeleira até ao chão.
O Senhor do jardim abateu o bambu, cortou os ramos, tirou as folhas, rachou-o em duas partes e arrancou-lhe o coração. Em seguida levou-o à fonte de água fresca, próxima dos campos secos. Ali, muito cuidadosamente, o Senhor colocou o bambu no chão. Uma extremidade do tronco foi ligada à fonte de água, outra foi virada para o campo seco.
Da fonte jorrava água, a água passava através do bambu oco e chegava alegre ao campo seco que há muito suspirava por aquela água fresca. Em seguida foi plantado o arroz. Os dias passaram, a semente cresceu e o tempo da colheita chegou. Assim o maravilhoso bambu tornou-se uma grande bênção para aqueles campos secos devido à sua grande generosidade e humildade.
Grande e plena foi a alegria do bambu e finalmente sentiu-se realizado. Enquanto era jovem e bonito, o bambu vivia e crescia só para si mesmo e amava somente a sua beleza e bem-estar. Numa palavra, era egoísta. Depois, pelo contrário, despojado de toda a sua beleza, inclusive da sua própria vida, tornou-se num canal, que o Senhorusou para tornar fecundos e férteis os seus campos.
No mês de Novembro, a Igreja cristã lembra todos aqueles que nos antecederam e que foram para nós modelo de pessoas que viveram de acordo com a sua fé. Celebramos a solenidade de Todos os Santos, no dia 1 de Novembro e no dia 2 celebramos a comemoração de todos os Fiéis Defuntos. Geralmente costumamos ir aos cemitérios, enfeitamos as campas e rezamos por todos os membros falecidos da nossa família. Fiéis que, como o bambu, entregaram a sua vida de volta ao Senhor que lha tinha dado e alimentado.
Eu gosto de pensar, nesta altura do ano, que a minha vida foi possível devido aos esforços e à grande dedicação de todos os meus antecessores na fé, que aceitaram usar e dar a sua vida para que outros tivessem vida. Também eu nesse dia lembrarei, de maneira particular, o meu falecido pai, e darei graças a Deus pela sua vida e por tudo aquilo que ele fez por mim. Lembrarei também muitas outras pessoas que ofereceram generosamente a sua vida a Deus para que outros tivessem vida. Recordarei duma maneira particular muitos missionários e missionárias conhecidos, e ainda muitos mais anónimos, que não se pouparam a esforços e sacrifícios para viverem a sua vida duma maneira alegre e simples colocando-se sempre ao lado dos mais pobres e abandonados. Esse foi, sem dúvida, o testemunho de Madre Teresa de Calcutá, só para citar uma missionária conhecida. Pessoas que gastaram todas as suas forças e energias para fortalecerem e confortarem aqueles que mais necessitavam. Por isso eles são para nós modelos de como também nós deveremos viver a nossa vida. São os santos dos dias de hoje.
Há uns dias alguém confidenciava comigo dizendo-me que nos tempos de hoje já não há santos. É mentira. Também existem santos nos nossos tempos. Nós é que muitas vezes não nos apercebemos da sua presença e do seu testemunho. Andamos atarefados com tantas coisas inúteis que temos dificuldade em descobrir nas pessoas que nos rodeiam verdadeiros actos heróicos de santidade. Os nossos olhos já não conseguem ver os santos de hoje.
Lanço-vos um desafio, este mês. Vamos olhar à nossa volta. À volta da nossa família, da nossa paróquia, da nossa escola, do nosso trabalho..., enfim, à volta de todos os ambientes por nós frequentados e vamos tentar descobrir os “santos anónimos” de hoje e as coisas boas que eles fazem. Vamo-nos aperceber das qualidades e dos sacrifícios que muita gente faz para que outros possam viver com alegria. Vamos dar conta de tantos “bambus” que diariamente e no silêncio oferecem a sua vida para que outros possam ter vida, e a ter em abundância.

Para concluir, a história do bambu leva-me imediatamente para o capítulo 10 de S. João, onde podes ler: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o Bom Pastor. Eu dou a vida pelas ovelhas. Ninguém Me tira a vida; Eu dou-a livremente.”

Imagem: Internet