Há algum tempo, num tema de catequese, fiquei impressionado com a imaginação que os jovens nos podem presentear, refiro me à autora desta história, uma jovem de 15 anos. A ela o meu agradecimento por esta bela história...
"Era uma vez, num futuro longínquo, uma cidade quase perfeita. Não existiam malfeitores ou preguiçosos, não havia poluição, trânsito ou degradação. À primeira vista tudo era perfeito.
Na cidade quase perfeita, em frente de cada casa estava uma bandeira. As bandeiras podiam ser vermelhas, amarelas, brancas ou negras. E apesar de não ser obrigatório, fazia parte do senso comum, uma habitação ter a sua bandeira. E porquê? E todas as habitações sem excepção a tinham.
A bandeira, indicava a cor da pele da família que aí vivia. E por existirem bandeiras com quatro cores possíveis é que a cidade era quase perfeita. Assim pensavam os seus habitantes. Mas, seria?
As pessoas de pele branca só gostavam de bandeiras brancas e orgulhavam-se da bandeira
que tinham em frente da sua casa. Da mesma forma pensavam as pessoas de outras cores. As crianças de cores diferentes não brincavam juntas, os adultos de cores diferentes diziam "Olá" e "Bom dia", mas a conversa já não chegava ao "como está?". Isto é, na cidade quase perfeita a cor da bandeira seria para identificar quem eram os possíveis amigos. Mas acontecia que, todos os meses, na cidade quase perfeita havia uma reunião com todos os habitantes da cidade. Era liderada pelo Presidente da Câmara e realizava-se, num edifício do tamanho de dois estádios de futebol. O edifício chamava-se, o Individual. Era assim, que se procurava manter a quase perfeição da cidade. “O Individual”, que tinha apenas uma só grande porta simbolizava o poder e a singularidade da cidade.
Num certo dia de Inverno, caía um forte nevão na cidade quase perfeita, mas nem por isso se adiou a grande reunião. Encontrava-se a cidade em peso no Individual, quando se ouviu um enorme estrondo, algo de sobrenatural. Um milésimo de segundo depois, todo o Individual ficou às escuras, gerou-se o pânico entre as 33000 pessoas que começaram numa correria desenfreada para a grande entrada; só que a porta não abria. Sem ver o seu auditório, o Presidente, com sangue frio, apercebeu-se do perigo da situação: nunca na cidade quase perfeita alguém tinha assistido a uma falha de electricidade; as pessoas atropelavam-se e poderia mesmo haver mortes por esmagamento.
Rapidamente dá a mão à pessoa que estava a seu lado, que por sua vez percebeu a mensagem: formou-se um grande cordão humano dentro do Individual. “Calma, calma” ouviu-se. Sem olhar à cor da mão em que se segurava, apenas agarrando-a, sabendo que essa mão poderia salvar a sua vida, todos se acalmaram, e a extremidade do cordão ao pé da porta conseguiu arrombá-la.
Lentamente, a multidão saiu do Individual para a neve gélida. Uma a uma, as pessoas apercebem-se de que a mão que seguravam não era da sua cor. No entanto, agarraram-na com igual força. Dentro do Individual, às escuras, o cordão humano tinha permitido que as pessoas, uma vez cá fora, se apercebessem de que a sua cidade só era quase perfeita. Até àquele dia, ninguém se tinha apercebido de que uma mão negra, branca, amarela ou vermelha tem a mesma força para agarrar, seja às escuras seja às claras."
(Joana Rute, 15 anos)
- Que vos diz esta história?
- Que nomes concretos dariam a essas bandeiras?
- Que bandeiras coloco eu nos outros?
- Que preconceitos tenho eu das pessoas que vejo, na sociedade em que vivo, na minha turma, no meu bairro em que vivo, nas pessoas que eu conheço?
Fonte: Somos +, Catequese 8.º ano
Imagem: Internet