quinta-feira, 31 de maio de 2018

Corpus Christi

O que é a Festa do Corpo de Deus ou Corpus Christi?
Corpus Christi (expressão latina que significa Corpo de Cristo, generalizada em Portugal como Corpo de Deus é um evento baseado em tradições católicas realizado na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma "Festa de Guarda" onde a participação da Santa Missa neste dia é, para os católicos, obrigatória, na forma estabelecida pela conferência episcopal do país respectivo.

A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cânone 944) que determina ao bispo diocesano que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo." É recomendado que, nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o bispo (cânone 395).

História:
A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XIII. O papa Urbano IV, na época o cónego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, recebeu o segredo da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que teve visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. Por volta de 1264, numa cidade próxima a Orvieto (onde o já então papa Urbano IV tinha sua corte), chamada Bolsena, ocorreu o Milagre de Bolsena, em que um sacerdote celebrante da Santa Missa, no momento de partir a Sagrada Hóstia, teria visto sair dela sangue, que empapou o corporal (pano onde se apoiam o cálice e a patena durante a Missa). O papa determinou que os objetos milagrosos fossem trazidos para Orvieto em grande procissão em 19 de junho de 1264, sendo recebidos solenemente por Sua Santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico de que se tem notícia. A festa de Corpus Christi foi oficialmente instituída por Urbano IV com a publicação da bula Transiturus em 8 de setembro de 1264, para ser celebrada na quinta-feira depois da oitava de Pentecostes. Para um maior esplendor da solenidade, desejava Urbano IV um Ofício para ser cantado durante a celebração. O Ofício escolhido foi composto por São Tomás de Aquino, cujo título era Lauda Sion (Louva Sião). Este cântico permanece até à atualidade nas celebrações de Corpus Christi. 

O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o papa morreu em seguida, menos de um mês depois da publicação da bula Transiturus. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colónia, na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colónia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois em França e na Itália. Em Roma, é encontrada desde 1350.

A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: «Este é o Meu corpo... isto é o Meu sangue... fazei isto em memória de mim». (Lc 22, 19-20)  Segundo Santo Agostinho, é um memorial de imenso benefício para os fiéis, deixado nas formas visíveis do pão e do vinho. Porque a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o vinho sangue de Jesus Cristo, em toda Santa Missa, mesmo que esta transformação da matéria não seja visível.

Corpus Christi é celebrado 60 dias após a Páscoa, podendo cair, assim, entre as datas de 21 de maio e 24 de junho.

Festa em Portugal:
Em Portugal tradicionalmente é dia feriado. Em 2013, 2014 e 2015, o feriado foi retirado, mas regressou em 2016. Neste dia, em todas as 20 dioceses de Portugal fazem-se solenes procissões a partir da igreja catedral, tal como em muitas outras localidades, que são muito concorridas. Estas procissões atingem o seu esplendor máximo em Braga, Porto e Lisboa.

Ordenada por D. Dinis, a festa do Corpus Christi começou a ser celebrada em 1282, embora haja referências à sua comemoração desde os tempos de D. Afonso III. Em Portugal, a festa era antigamente celebrada com danças, folias e procissões em que o sagrado e o profano se misturavam. Representantes de várias profissões, carros alegóricos, diabos, a serpe, a coca, gigantones, ao som de gaitas de foles e outros instrumentos, desfilavam pelas ruas. Das danças dos ofícios, em Penafiel, ainda se celebram o baile dos ferreiros, o baile dos pedreiros e o baile das floreiras. Esta celebração tem uma conotação muito forte no Minho, particularmente em Monção e em Ponte de Lima. Em Ponte de Lima, a tradição d'O 
Corpo de Deus perdura já há vários séculos.

O Corpo de Deus é celebrado no 60º dia após a Páscoa, ou mais correctamente na Quinta-feira que se segue ao Domingo da Santíssima Trindade (que, por sua vez, é o primeiro Domingo a seguir ao Pentecostes) seguindo a norma canónica. A diferença prende-se no fato de, no dia posterior ao feriado nacional, realizar-se uma celebração, própria e exclusiva da vila, tendo sido decretado desde 1977 feriado para todos os Limianos.

As celebrações do Corpo de Deus realizam-se durante todo o dia, sendo os Limianos presenteados com uma procissão da parte da manhã e outra da parte da tarde em volta da vila e uma missa para todos os habitantes do Concelho no próprio dia, sempre ao meio-dia, na Igreja Matriz. Em Braga, é também tradição, desde 1923, a presença maciça de Escuteiros do Corpo Nacional de Escutas - Escutismo Católico Português, pois foi nessa procissão que os mesmos se apresentaram em público naquele ano.

fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpus_Christi
imagem: Internet

Festa da Visitação de Maria

Leitura Bíblica:
"Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
Maria disse, então:
«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.» Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa."
(Lc 1, 39-56)

Comentário:
O culto está orientado para a vida. Por isso, ao encerrarmos o mês de Maria, somos convidados a pôr em prática o que aprendemos aos pés da Senhora. A festa de hoje sugere três propósitos principais que devemos fazer na conclusão deste mês:
1) Comunicar a Boa Nova da alegria
2) Glorificar o Senhor na fé
3) Transformar o mundo.

As pessoas andam, com frequência, tristes. O peso da vida, o desabar de tantos sonhos, as preocupações diárias, as doenças, os contratempos, geram o desânimo e, por vezes, trazem o desespero. No meio de tudo isto é preciso que brilhe nos nossos corações a luz da esperança. No tempo de Maria, o Povo de Deus vivia acabrunhado e jazia num certo imobilismo, sujeito ao jugo estrangeiro. Mas um grupo de pobres - «os pobres de Javé» - teimava em esperar uma intervenção de Deus. Esta não faltou. E surgem acontecimentos íntimos, escondidos, que transformam a alma de Maria, que inundam de alegria a alma de Isabel. E a esperança cresce e, com ela, a alegria comunica-se pelas montanhas da Judeia. As pessoas dão-se as mãos, ajudam-se umas às outras e, em segredo transbordante, anunciam notícias alegres. E até o menino João Baptista salta de alegria no seio materno.

Ao sentir o Senhor presente e actuante na sua vida, é a própria Isabel que exclama: «Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45). Ao que Maria respondeu: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1, 46-47).
A esperança alegre aumenta a fé e a caridade. Ver Deus nos acontecimentos da vida e manter com Ele sentimentos filiais de gratidão, é uma atitude profundamente cristã e mariana. Apesar de terminar o mês de Maio, devemos continuar a orar, a glorificar o Senhor, a admirá-l'O nas Suas obras e a cantar-Lhe o hino de gratidão.

O «Magnificat» é um cântico profundamente revolucionário. Cantamo-lo, frequentemente, sem nos darmos conta do que dizemos. Contudo, ele é o cântico dos pobres vitoriosos e libertados. Diz assim:
«E a Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. «Exerceu a força do Seu braço, e dispersou os soberbos de coração. «Cumulou de bens os famintos e aos ricos despediu-os de mãos vazias» (Lc 1, 50-53).
Isto é a transformação total. É a reviravolta de um mundo edificado sobre o poder, o ter e o saber, para o construir segundo a vontade de Deus. Os cristãos têm obrigação de participar nesta grandiosa tarefa!

Imagem: Internet
Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica (1978)


quarta-feira, 30 de maio de 2018

Os Santuários de Maria

Leitura Bíblica:
"Jesus declarou-lhe: «Mulher, acredita em Mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai. Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. Deus é espírito; por isso, os que O adoram devem adorá-l'O em espírito e verdade.»"
(Jo 4, 21.23-24)

Comentário:
Temos, através do mundo cristão, certos lugares particulares queridos aos fiéis, os quais, por isso mesmo, são lugares de peregrinação, isto é, de concentração de muitos crentes. Entre os lugares mais famosos da Antiguidade, lembremos apenas: Jerusalém, com o Calvário e o Sepulcro do Senhor; Belém, com a Gruta do Nascimento; os lugares da Terra Santa, marcados pela recordação da presença viva de Jesus; Roma, com os sepulcros dos Apóstolos São Pedro e São Paulo; Compostela, onde se pensa estar sepultado o Apóstolo São Tiago; o Monte de São Miguel dedicado a este anjo, etc. Nos últimos tempos, surgiram alguns centros de peregrinação, particularmente célebres, dedicados a Maria, como Lourdes e Fátima.

O homem religioso tem necessidade de lugares e de coisas sagradas: Santuários, imagens, relíquias, estampas, objectos benzidos. E assim por diante. Esta necessidade é psicológica. Brota do sentimento religioso e é sua expressão. Por isso, encontramo-la em qualquer religião, e até em maior profusão do que no cristianismo. Precisamente, o cristianismo, numa linha profética, lutou contra os abusos do sentimento religioso, entregue a si próprio. Na verdade, um excesso de sentimento religioso está na base do politeísmo, do bruxedo, da idolatria. Já S. Paulo dizia aos atenienses que eles «eram os mais religiosos de todos os homens» (Act 17, 22), pois não havia «deus» que não tivesse, no areópago, o seu altar.
É realmente perigoso darmos demasiada importância ao lugar, ao santuário, às imagens e aos objectos sagrados, em prejuízo das pessoas. Seria caírmos numa inversão de valores. Porquê? Porque a pessoa humana é o que há de mais sagrado sobre a terra. Tudo o mais - lugares, objectos, imagens e coisas sagradas - estão ao seu serviço.

O cristianismo representa um esforço pela espiritualização do culto. É uma luta para libertar as pessoas dos exageros escravizantes do sentimento religioso. Assim, em vez do templo de pedra, Cristo e os cristãos são templos de Deus. Os verdadeiros templos do Deus vivo. É este o significado dos textos evangélicos sobre a expulsão dos vendilhões do Templo, sobre a destruição do Templo de Jerusalém, do rasgar-se do véu do Santuário, etc. Lê-se no Apocalipse: «Não vi templo algum na cidade, porque o Senhor, Deus Todo Poderoso, é o seu Templo, assim como o Cordeiro» (21, 22). E S. Paulo pergunta: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?» (1Cor 3, 6). Outros textos: Jo 2, 13-23; 1 Cor 6, 19, etc.

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

terça-feira, 29 de maio de 2018

Maria e as mudanças na Igreja

Leitura Bíblica:
"Tendo Jesus chegado a casa, de novo a multidão acorreu, de tal maneira que nem podiam comer. E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: «Está fora de si!»"
(Mc 3, 20-21)

Comentário:
Depois do Concílio, tem havido muitas mudanças na Igreja. Lembremos as mudanças verificadas na celebração da Eucaristia, no jejum eucarístico e quaresmal, na lei da abstinência e das indulgências, na nova atitude política, no novo modo de apreciar as coisas, da maneira actual de tratar os protestantes como irmãos. E assim por diante. Todas estas mudanças, e outras mais que se estão a processar, causam dores de cabeça a muita gente. Não conseguem entender o porquê de tudo isto e, naturalmente, as pessoas preocupam-se. Mas é bom sinal, significa que se interessam pela sorte da Igreja.

Nossa Senhora viveu um período de mudanças muito mais profundas que as verificadas nos nossos dias. Como qualquer israelita, ela tinha sido educada no respeito sagrado pela Lei de Moisés. S. Lucas mostra-nos a Senhora a apresentar o Menino Jesus no templo, Jesus foi circuncidado no oitavo dia do seu nascimento (Lc 2, 21); os seus pais levavam-no, todos os anos, em peregrinação a Jerusalém, pela festa da Páscoa (Lc 2, 41 ss).
Não exageramos nada se imaginarmos Nossa Senhora e S. José como uma piedosa família judia da época, observante fiel das prescrições mosaicas. Mas Jesus cresce e começa a ensinar coisas nunca dantes ouvidas: que não se deve dar tanta importância ao sábado, pois este «foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27); que, para adorar o Pai, não é preciso subir a Jerusalém, pois «os verdadeiros adoradores adorá-l'O-ão em espírito e verdade» (Jo 4, 20-24); que o Templo, orgulho nacional da religião judia, vai ser destruído. Jesus, Santo Estêvão e S. Paulo são acusados e condenados por estarem contra o Templo e, naturalmente, contra o que ele significa: sacerdócio, sacrifício, culto mosaico... (Mc 13, 2; 14, 58; Act 6, 13 ss).
Com Jesus nasce uma nova fé. Para Maria foi uma mudança espantosa. Terá também ela sofrido com tais mudanças? Vários textos evangélicos o fazem supôr. Simeão fala duma «espada de dor» (Lc 2, 33-35); outros textos dizem-nos claramente que a família de Jesus não O entendia (Lc 2, 48-50; Jo 7, 3-5) e até chegaram a pensar que Ele não estava bom (Mc 3, 20-21).

As actuais mudanças na Igreja foram decretadas por ela mesma reunida em Concílio. Talvez alguns tenham exagerado nessas mesmas mudanças. O certo, porém, é que ainda há muito a reformar para cumprirem a vontade do Senhor, manifestada nos documentos conciliares. É possível que algumas pessoas sofram com tudo isto. Entretanto, como Maria, esforcemo-nos por estar atentos à voz de Deus. Porque é o Seu Espírito que «faz rejuvenescer a Igreja com a força do Evangelho e a renova continuamente» (LG 4).

Siglas:
LG - Lumen Gentium (Constituição Dogmática sobre a Igreja) 

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Quantas Nossas Senhoras há?

Leitura Bíblica:
"«Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’ Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’"
(Mt 25, 31-40)

Comentário:
A piedade popular católica multiplicou os títulos marianos. São muitas as «nossas senhoras» que encontramos por esse Portugal fora: Nossa Senhora do Sameiro, da Fátima, da Franqueira, da Saúde, do Carmo, dos Remédios, das Graças, etc. Há igrejas que têm duas, três, quatro ou mais imagens diferentes de Maria. A gente culta sabe muito bem que Maria é uma só. É-nos, todavia, apresentada em diversos aspectos da sua vida terrestre: menina, donzela, adulta; a ir à água à fonte, a fugir para o Egipto, a alimentar o Menino Jesus, a ler a Sagrada Escritura, a orar. E assim por diante. É-nos também apresentada na sua função actual junto dos cristãos como Mãe da Igreja, Rainha dos Mártires, Mãe dos homens. Aparece-nos ainda adornada com outros títulos de gosto popular, como Nossa Senhora dos Aflitos, Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora dos Prazeres, ou com títulos ligados ao lugar onde se encontra um seu santuário, como Nossa Senhora da Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Sameiro...

Todo o católico, com dez reis de cultura cristã, sabe muito bem que Nossa Senhora é uma só. Pois, como diz o Poeta: «Senhora do Sameiro, da Fátima, da Paz / Chamar por uma e por todas / É o mesmo: tanto faz» (Correia de Oliveira). Apesar de tudo, a muitas pessoas, tantos títulos marianos causa-lhes confusão. Certos comportamentos práticos de muitos levam mesmo a concluir que eles julgam tratar-se de «nossas senhoras» diferentes, quando dizem, por exemplo: «A Senhora de tal lado não vale nada, não faz milagres nenhuns; a de tal, sim, essa é que é milagrosa...» Não é raro depararmos também com um apego irracional a uma determinada imagem de Maria, não por causa do seu valor histórico, artístico ou religioso, mas porque se crê que tal imagem é mais taumaturga do que outra, está revestida de especiais poderes.

Alguns textos bíblicos proibem o culto das imagens: «Não farás para ti imagens esculpidas, nem qualquer imagem do que existe em baixo, na terra, ou do que existe nas águas, por debaixo da terra» (Ex 20, 4; Dt 27, 1-5; 4, 9-28).
Este preceito deve ser interpretado no ambiente bíblico da época. Os povos adoravam, então, muitos ídolos e deuses. Além disso, havia pouca gente culta. Por isso, facilmente se identificava Deus com uma imagem d'Ele. Para evitar tais perigos é que a Bíblia proibe as imagens. Mas afastados esses perigos, as imagens podem ajudar-nos muito a pensar em Deus e nos Seus santos, como a fotografia do pai, da mãe, da namorada, nos ajudam a pensar neles. Neste sentido, os cristãos começaram por ter imagens daqueles que se dintinguiram nas virtudes evangélicas, como Nossa Senhora e os santos. Por meio de imagens e quadros, também representamos certas verdades da fé, como o Espírito Santo, a Santíssima Trindade, a Eucaristia, etc.

Antes de mais, importa ter bem presente que a principal imagem de Deus sobre a terra somos nós: «Deus criou o homem à Sua imagem» (Gn 1, 26-27). As imagens de madeira ou de pedra não foram feitas à imagem de Deus. Mas nós somos imagens de Deus, pela criação, e imagens de Cristo pelo baptismo. Ora acontece que temos tanta preocupação pelas imagens vivas que são as pessoas. Se for preciso, até construímos uma casa para guardar uma imagem. E, à nossa volta ou longe de nós, há tantas pessoas sem casa, sem pão, sem carinho! 

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

domingo, 27 de maio de 2018

Senhora da Paz

Leitura Bíblica:
"Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»"
(Jo 20, 19-23)

Comentário:
Vivemos num mundo de contrastes. O custo de um bombardeiro atómico, por exemplo, daria para construir 75 hospitais com 1000 camas cada um; ou para construir 30 faculdades com 1000 alunos cada uma; ou para pagar salários a 15 000 ceifeiras, o que aumentaria extraordinariamente a produção dos nossos campos. O custo de um porta-aviões atómico daria para comprar 3000 milhões de trigo capazes de dar pão, durante um ano, a uma cidade como a do Porto. O custo de um foguetão daria para comprar 1000 toneladas de açucar; o de um submarino, para 50 000 toneladas de carne. Vejamos agora o reverso da medalha: por cada três pessoas que habitam este planeta, duas passam fome; temos ainda três milhões de analfabetos, milhões de doentes sem assistência hospitalar, etc. No entanto, a humanidade dá-se ao luxo de gastar rios de dinheiro em preparativos bélicos e em guerras.
Diz Paulo VI: «Quando tantos povos têm fome, tantos lares vivem na miséria, tantos homens vivem mergulhados na ignorância, tantas escolas, hospitais e habitações dignas deste nome ficam por construir, torna-se um escândalo intolerável qualquer esbanjamento público ou privado, qualquer gasto de ostentação nacional ou pessoal, qualquer recurso exagerado aos armamentos» (Populorum Progressio, 53).

Em todo o mundo a humanidade anseia pela paz. A juventude do mundo inteiro é a que melhor manifesta esta consciência dos homens do nosso tempo. Porque tem direito a viver em paz. Talvez mais do que ninguém, neste particular, o Papa Paulo VI tem sido um autêntico campeão na promoção da paz. Instituiu, no dia de Ano Novo, o Dia Mundial da Paz. No dia 4 de Outubro de 1965, festa de S. Francisco de Assis, o Papa deslocou-se à sede da ONU, em Nova Iorque, para pregar a paz às nações. Nesse discurso memorável, disse: «Nunca mais a guerra! Sempre a Paz!...» Se deveras quereis ser irmãos, deixai cair das vossas mãos as armas... ou a humanidade porá fim à guerra ou a guerra porá fim à humanidade». E em Fátima, disse: «Homens..., procurai ser dignos do dom divino da paz. Homens, sede homens!» Em discursos, visitas, mensagens e outros meios de actuação, Paulo VI leva sempre no seu coração a ânsia da paz. E fá-lo, não por razões de interesse pessoal ou de carácter político, mas porque é seu dever pregar a Boa Nova da paz.


Diz uma das bem-aventuranças evangélicas: «Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Um cristão não pode ser pela guerra, porque Deus é pela paz. Como construir a paz? Responde o Concílio: «Para edificar a paz, antes de mais, é preciso eliminar as causas das discórdias entre os homens, sobretudo as injustiças, que são o alimento das guerras» (GS 83). Nossa Senhora em Fátima manifestou-se contra a guerra. Anunciou o fim da primeira guerra mundial, e disse que o pecado era a sua causa. O Concílio que, em frase de Paulo VI «é o Evangelho para o homem do nosso tempo», afirma que tais pecados são «sobretudo as injustiças». Elas «são o alimento das guerras». Por isso, a palavra de ordem para o Dia Mundial da Paz em 1971 era: «Se queres a paz, luta pela justiça». E a «Populorum Progressio» ensina: «Desenvolvimento é o novo nome da paz». Não esqueças, cristão, que a «paz também depende de ti».

Siglas:
GS - Gaudium et Spes (Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo)

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

sábado, 26 de maio de 2018

Senhora dos emigrantes

Leitura Bíblica:
"Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o Menino para o matar.» E ele levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o Meu Filho."
(Mt 2, 13-15)

Comentário:
A emigração é um dos problemas mais sérios que nos atormentam, tanto a nível individual como familiar, eclesial ou nacional. Oss números sobre este ponto são elucidativos. Em 1971, abandonaram o país 27 418 famílias, o que corresponde a 2284 famílias por mês. Isso representa uma sangria nacional, como se uma cidade como Braga ou Coimbra tivesse desaparecido do mapa, no espaço de um ano! E em 1972, o drama continuava. Nos oito primeiros meses deste ano, só para França, já haviam emigrado 18 893 famílias com um total de 26 399 pessoas! Em dez anos, de 1962 a 1971, mais de um milhão de pessoas abandonou Portugal. Uma coisa assim como se Lisboa e arredores tivessem sido destruídos por um terramoto. 

Era preciso que isto cá estivesse muito mal para que tantos portugueses se vissem obrigados a dizer adeus à sua terra, ao seu lar, à sua gente!... E não era porque se facilitasse a emigração. Antes pelo contrário. Tanto assim que a grande maioria saiu clandestinamente, o que aumentou brutalmente o sofrimento do nosso povo. Vejamos o que isto significa para os indivíduos, tantas vezes isolados e explorados em terra estranha; para as famílias separadas, as esposas longe dos maridos, os filhos afastados dos pais; para a Igreja, cujos filhos emigrantes tantas vezes perderam a fé, ao sentirem-se abandonados numa terra distante, com outra língua, outros costumes e outro nível de vida; para o país, pois os portugueses são a maior riqueza de Portugal.

Antes de mais, é preciso tomar consciência desta situação grave do nosso povo. Depois cabe aos indivíduos, às famílias, à Igreja e ao Estado reagir. A solução não pode consistir em proibir a emigração. Emigrar é um direito das pessoas. Além disso, proibir a emigração, sem eliminar as causas que a produzem, seria inútil. Bem a proibiram uns anos atrás, mas o povo fugiu como água por entre os dedos. É que o instinto da sobrevivência a tudo se sobrepõe. O que é preciso é acabar com as causas que obrigaram e obrigam as pessoas a emigrar.

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Senhora da Saúde

Leitura Bíblica:
"Ao descer do monte, seguia-o uma enorme multidão. Foi, então, abordado por um leproso que se prostrou diante dele, dizendo-lhe: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» No mesmo instante, ficou purificado da lepra."
(Mt 8, 1-3)

Comentário:
A saúde é um dos bens mais preciosos da existência. Diz a gente simples: «Haja saudinha e há tudo!». E a canção: «Três coisas há na vida: dinheiro, saúde e amor...» Não admira, portanto, que o povo tenha recorrido sempre a Nossa Senhora, pedindo-lhe saúde. Temos assim diversos títulos marianos que respondem a este aspecto da vida, tais como Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora do Fastio, etc., etc. Além disso, em alguns santuários marianos realizam-se solenidades especiais a pedir o alívio dos doentes ou até o «milagre» da saúde. Recordemos a bênção dos doentes de Lourdes, Fátima, Sameiro, e outros lugares de devoção mariana.

É bom pedir a saúde. Mas isso não nos deve dispensar da obrigação de a conservar e de nos esforçarmos por a recuperar quando a tivermos perdido. Devemos pensar que Deus não faz milagres à toa. Ele criou o mundo com as suas leis próprias. Não as altera, a não ser por um fim superior. Por isso, invocar Nossa Senhora da Saúde, mais do que esperar um milagre deverá ser um compromisso por evitar aquilo que é nocivo à saúde ou de lutar por ela se tivermos a desgraça de a perder. Isto a nível individual. A nível comunitário, um povo que acredita em Nossa Senhora da Saúde deve fazer um esforço colectivo por ter bons hospitais, pessoal especializado, assistência médica e medicamentosa, etc..
Temos entendido assim a devoção a Nossa Senhora da Saúde?

Maria é mãe dos que sofrem. Uma mãe não goza em ver sofrer seus filhos. Ela quer aliviar as nossas dores. Por isso, quer também libertar-nos da doença. Devoto de Nossa Senhora da Saúde é aquele que se esforça por colaborar com Maria nesta obra de aliviar o sofrimento alheio. É portanto o médico que faz tudo o que é possível para ajudar o seu doente; é o enfermeiro dedicado e carinhoso; é o que visita os doentes de um hospital para consolar os que sofrem; é o especialista que estuda no seu laboratório, procurando descobrir a síntese de novos remédios para atacar mais eficazmente a doença...
Temos em casa pessoas doentes? Têmo-las acarinhado, ajudado, visitando-as? É nisto que se manifesta a verdadeira devoção à Senhora da Saúde.
Raul Foullereau é conhecido em todo o mundo como o «apóstolo dos leprosos». A lepra é uma das doenças mais horríveis da humanidade. Em 1954, Foullereau dirigiu uma carta aos Presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, pedindo-lhes o preço de dois aviões a jacto. Com esse dinheiro comprometia-se a curar todos os leprosos do mundo. Mas não obteve resposta. Onde está a devoção à Senhora da Saúde?

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Maria, Esposa e Mãe

Leitura Bíblica
"Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens."
(Lc 2, 41-52)


Comentário
Hoje, porventura mais do que em qualquer outra época, torna-se difícil a convivência familiar. Sobretudo os sacerdotes que, por dever pastoral, estão mais em contacto
com uns e com outros, vão-se dando conta desta dificuldade. Com frequência, as mães vêm ter connosco e, num doloroso desabafo, dizem-nos: «Padre, reze pelo meu filho
ou pela minha filha. Eduquei-os o melhor que pude. Mandei-os à catequese. Levava-os ao domingo à missa. Mas agora não querem saber de nada. Olhe, o meu João até diz
que vai casar pelo civil. Imagine, Padre!...» E nós compreendemos a dor que vai naquela alma. Mas, logo a seguir à mãe, é capaz de vir o filho ou a filha e dizer:
«Padre, dê-me uma ajuda! Lá em casa não me entendem. Não me deixam ser eu. Não posso abrir a boca. Não posso vestir a meu modo, nem usar o cabelo como eu quero. Os
meus pais cismam em que hei-de pensar como eles, viver como eles, rezar como eles...». E também nos damos conta de que esses corações sofrem.
A vida moderna exige padrões modernos. No tempo em que não havia rádio, nem televisão, quando a imprensa era rara e até poucos sabiam ler, as ideias avançavam muito
lentamente. Passava-se um século ou mais e todos pensavam do mesmo modo, contentavam-se com a mesma moda, viam e sentiam as coisas da mesma maneira. Assim, pais,
filhos e netos, tinham praticamente todos o mesmo pensar. Hoje é muito diferente. Já é lugar comum dizer-se que hoje se muda mais em dez anos do que outrora em cem.
Assim, não é raro ver-se um jovem de 20 anos com um modo de ser e de sentir quase em contradição com um jovem de 28 ou 30 anos! Além disso, os jovens hoje estudam,
leem, convivem, trocam ideias e impressões. Mercê deste facto, são esmagados por uma enorme carga de ideias que desperta neles uma atitude crítica a reclamar uma
independência de pensamento. É claro que estes e outros fatores tornam-se muito mais difícil a convivência social entre as diferentes idades e mentalidades. Tal
tensão, como é óbvio, estala sobretudo no seio da família. Faz sofrer pais e filhos. Estes conflitos poderão ser ultrapassados numa base de amizade mútua, diálogo,
tolerância e mútua compreensão.
Quando Jesus subiu ao Templo na companhia de seus pais, ficou lá três dias, sem lhes ter pedido licença. Ao encontrá-l'O, Nossa Senhora queixou-se, dizendo: «Filho,
porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura?». Ele respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de
Meu Pai?» (Lc 2, 48-49). E o evangelista acrescenta, à guisa de comentário: «Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse» (Lc 2, 50). Também muitos pais não
compreendem hoje os seus filhos. Ora aqui está um dos pontos necessários para a solução deste espinhoso problema: a mútua compreensão. Ser compreensivo significa ter
muita capacidade para ouvir, ser capaz de se meter na pele do outro. A compreensão supõe um diálogo constante, aberto. Um diálogo franco, sem imposições autoritárias.
Além da compreensão e do diálogo é preciso o pluralismo. Este dá-se quando as pessoas se reconhecem diferentes e se aceitam como tal. Não podem todos ser olhos. Não
podem todos ser mãos. Não podem todos ser pés. Cada um tem os seus dons, as suas qualidades e os seus defeitos. Aceitar-se cada um como é, esforçando-se, embora, por
melhorar, é um dos caminhos para a convivência familiar.
Que a Senhora, mãe e esposa, nos ajude a ser compreensivos e a prestarmos mutuamente ajuda uns aos outros.

Texto extraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Maria, esposa do Espírito Santo

Leitura Bíblica
"Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela." 
(Lc 1, 34-38)

Comentário
A vida matrimonial está hoje sujeita a novas dificuldades. Outrora, e ainda hoje num pequeno meio rural, o casal vivia sempre junto, rodeado de pessoas conhecidas. Além disso, a mortalidade infantil e a vida agrícola excluiam a hipótese dum aumento inesperado da população, pelo que não surgiam os problemas da regulação da natalidade. Por outro lado, nas civilizações agrárias, a mulher vivia numa situação de minoridade do casal, embora muitas vezes injusta.

Numa civilização urbana e industrial, como começa a ser a nossa, as coisas são muito diferentes. Geralmente, tanto o marido como a mulher trabalham fora de casa, separada um do outro. Não raro, o marido passa o seu dia tendo ao lado uma colega de trabalho, enquanto a mulher tem também de trabalhar com outro homem, que não é o seu marido. Isto põe problemas afectivos sérios e difíceis de resolver. Além disso, nas grandes cidades, o casal vive perdido numa multidão anónima e desconhecida, o que favorece certos desvaneios uma vez que é fácil dar «boleia» ou acompanhar um colega sem se ser notado por vizinhos coscovilheiros. Mais ainda, a mobilidade, a abundância de dinheiro e o anonimato da vida das grandes urbes, favorece a sede de aventuras,  insatisfação nervosa e a prática de acções anónimas. Por outro lado, a concentração de grandes massas humanas limita o espaço habitacional e põe o problema novo da limitação dos filhos. Nascem, deste modo, uma série de problemas típicos da era industrial.

Para todos estes problemas teremos de procurar soluções na pscicologia, na medicina e na sociologia modernas. Também a religião pode dar o seu contributo, que é talvez o mais importante. Para os crentes o seu amor é sagrado. Na verdade, o amor com que se amam manifesta e torna presente o amor de Cristo à Igreja. Ora o amor de Cristo à Igreja é um amor único, que só admite uma esposa; um amor eterno, que não pode ser quebrado pelo divórcio; um amor fecundo que floresce em novas vidas; um amor sacrificado: Cristo ama a sua Igreja até ao ponto de se entregar por ela. Esta mística do matrimónio é fonte de energias capaz de fazer brotar a felicidade sobre a vida dum lar. Por isso, nenhum cristão se deve casar, sem primeiro fazer um curso de preparação para o matrimónio.

Texto estraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

terça-feira, 22 de maio de 2018

Maria, Mãe dos Sacerdotes

Leitura Bíblica
"Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios. Estabeleceu estes doze: Simão, ao qual pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que o entregou." 
(Mc 3, 13-19)

Comentário
Nestes últimos anos os padres têm dado que falar. Foram as polémicas sobre o celibato; foi a discussão sobre a ordenação de homens casados; são os padres que abandonam o exercício das ordens sagradas; são os seminários vazios; são os padres a tomar compromissos políticos, a serem perseguidos pelos poderes civis e, finalmente, a serem presos e a sofrer condenações. Por outro lado, o seu modo de vestir e de actuar na sociedade causa susto a muita gente. Na verdade, os padres deixaram de ser todos iguais, de vestir todos do mesmo modo, de pensar e falar da mesma maneira, perderam até aquele ar místico e beato que lhes era frequente.

A crise do padre deve ser enquadrada na crise da Igreja e a «crise» desta na da civilização contemporânea. Estávamos habituados a definir a Igreja pela cúpula, pelo sacramento da Ordem, em vez de a definirmos pela base, pelo Baptismo. Por isso, ao menos na prática, até há pouco, entendíamos por Igreja apenas os padres e os bispos. Os fiéis cristãos não tinham consciência de ser igreja. A Igreja era como uma farmácia onde os leigos iam aviar as suas receitas para a saúde da alma. Não se sentia a Igreja como uma comunhão, uma comunidade-fraternidade.
O Concílio, afirmando que a Igreja é o Povo de Deus, veio dizer-nos que esta se deve definir pela base, pelo Baptismo, e não pela cúpula, pela Ordem. Então, começamos a compreender que há uma coisa reservada aos padres que pode e até deve ser feita por simples cristãos. Ora isso provocou uma crise para o padre. Sentiu que não era tão necessário como se dizia, que afinal os leigos podiam fazer muito do que ele faz. E perguntou-se: Qual é então o meu papel? Sou ainda necessário?

Pelo baptismo, todos participamos do sacerdócio de Cristo. Com efeito, Cristo fez de nós «um reino de sacerdotes para Deus Seu Pai» (Ap 1, 6; 5, 9). Por isso, os cristãos constituem «a raça eleita, nação santa, sacerdócio real, povo adquirido»  (1 Ped 2, 9). Ora nós quase esqueceramos este sacerdócio comum a todo o Povo de Deus, para nos fixarmos, quase exclusivamente, no sacerdócio ministerial que é dado pelo sacramento da Ordem. Isso foi um exagero, porque o sacerdócio básico, na Igreja, é o baptismal. Na verdade, o sacerdócio ministerial está ao serviço do sacerdócio baptismal e orienta-se para ele. Se existe, é por causa dele.

Texto estraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
Imagem: Internet

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Senhora da Boa Morte

Leitura Bíblica
"Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos." 
(Mc 6, 7.12-13)

Comentário
Não sabemos se Nossa Senhora morreu. A definição dogmática da Assunção de Maria ao Céu evitou tocar neste problema e limitou-se a afirmar que Maria, terminada a sua vida terrena, foi glorificada, sem especificar se morreu ou não. As opiniões dos teólogos dividem-se sobre este assunto. Para uns, Maria teria morrido e depois ressuscitado. Assim se assemelharia mais a Seu Filho. Para outros, foi glorificada, isto é, recebeu os dotes dos corpos gloriosos, sem previamente ter provado a morte. Não sabemos se Maria morreu ou não. O que sabemos é que está viva junto de Deus.

Os momentos principais da vida humana são assinalados por «acções sagradas» ou sacramentos. Assim como temos um sacramento com o dinamismo do nascer, também temos outro com a dimensão do morrer. A morte é uma coisa terrível. Todos a tememos. Todos desviamos dela o pensamento. Embora vejamos a conveniência de morrer, para que uma geração passe e dê lugar a outra, contudo não nos conformamos e todo o nosso ser se revolta contra a morte. Por outro lado, a doença e a velhice são uma morte a longo prazo. Pois também este estado de vida humana é santificado pela presença de Cristo no sacramento da Unção dos doentes.

Com o Concílio Vaticano II, também a liturgia e a mentalidade sobre o Sacramento dos Doentes está a sofrer uma reforma, sobressaindo nela duas notas principais: a ocasião em que pode ser recebido e a sua dimensão comunitária.
O Sacramento dos doentes pode ser recebido por qualquer doente que sofra de enfermidade grave, ainda que a morte não esteja à porta. Por isso, a velhice ou qualquer doença, que por si seja mortal, é suficiente para receber o respectivo sacramento. O sacramento pode ser renovado na mesma doença se, uma vez concedido, houve melhoras e, depois, se voltou a recair e se começou de novo a estar em perigo de morte.
Quanto ao aspecto comunitário, o Sacramento dos Doentes deixou de ser assunto privado entre o ministro e o doente, para passar a ser uma acção de toda a comunidade solidária para com o irmão doente, ajudando-o a integrar os seus sofrimentos no Mistério Pascal do Senhor.

Texto estraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
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domingo, 20 de maio de 2018

Maria e a Penitência

Leitura Bíblica
"Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.’» João dizia, então, às multidões que acorriam para serem baptizadas por ele: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? Produzi frutos de sincero arrependimento e não comeceis a dizer para convosco: ‘Nós temos Abraão como pai’; pois eu vos digo que Deus pode, destas pedras, suscitar filhos a Abraão. O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso, toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.» E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.»" 
(Lc 3, 3-14)

Comentário
A mensagem de Nossa Senhora em Fátima foi sintetizada em duas palavras: Penitência e Oração. Penitência, em sentido bíblico, não deve entender-se, principalmente, como sacrifício corporal. A penitência bíblica é, antes de mais, mudança de vida, conversão; é arrependimento e renúncia ao caminho do mal, para trilhar os caminhos do Evangelho. Deus, com efeito, não tem prazer em nos ver sofrer. O que Ele quer é que caminhemos na luz, renunciando às obras das trevas.
Ora isso, implica sofrimento ao submeter tendências, cujo bem particular delas está em conflito como bem total da pessoa. Por exemplo, ter tendência para comer é bom. A falta de apetite é um mal, uma doença. Mas, se o meu apetite me levasse a comer o que é do vizinho, então tal tendência, boa em si, tornava-se um mal para o conjunto da pessoa e da sociedade. Isto aplica-se também às tendências sexuais, boas em si, e a outras parecidas. Por isso, é que a penitência pode também implicar sofrimento, ao levar-nos a submeter o bem particular das tendências ao bem geral da pessoa e da sociedade.

O sacramento da Penitência é o sinal sensível da conversão. Converter-se é mudar de rumo. É encetar uma vida nova segundo o Evangelho. Esta mudança é efeito da graça de Deus. Por isso, o que se converte deve dar glória a Deus. Deve manifestar que a vida nova que começa lhe advem pelo Mistério Pascal de Cristo. Por isso, o principal sacramento da Penitência, isto é, da mudança de vida, é o Baptismo. Na verdade, por este sacramento, o recém-baptizado compromete-se a pôr de parte uma vida de trevas, uma vida mundana, para começar uma vida nova segundo os princípios e critérios evangélicos.

Acontece, porém, que às vezes alguns baptizados voltam atrás. Regressam à vida pecadora que levaram antes do baptismo. É uma desgraça. Faltam aos seus compromissos baptismais. Se se converterem, deve também manifestar esta conversão por meio dum gesto sensível. Devem reconciliar-se com Deus e com a Igreja, de quem se afastaram pelo pecado. A maneira de significar este regresso à Igreja, da qual se afastaram por uma vida indigna de cristãos, tem sido diferente através de séculos. Na disciplina actual, requere-se, ao menos, a confissão privada dos pecados graves. Estão, porém, a fazer-se, quase por toda a parte, celebrações comunitárias da penitência. Estas celebrações, recomendadas pela Igreja, têm o mérito de pôr em relevo a dimensão social da penitência.

Texto estraído do livro: Mês de Maria pela Bíblia, da Difusora Bíblica
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