sábado, 24 de agosto de 2013

Yom Kippur - A história do perdão

A história do perdão
O pai de Hanoch contou-lhe que, todos os anos, quando era novo, na véspera do Yom Kippur* , ia visitar os seus amigos e conhecidos e fazia-lhes a seguinte pergunta:
— Digam-me, por favor, se vos fiz algum mal, se vos ofendi de alguma forma, ou fui causa de infelicidade. Se o fui, lamento profundamente e peço-vos perdão.
Esta história deu que pensar a Hanoch. O rapaz disse para consigo “E porque não faço eu a mesma coisa?”
Correu para a cozinha, onde a mãe preparava o jantar, atarefada. Reinava ali um grande reboliço, com panelas e frigideiras a fumegar, e um cheirinho agradável no ar.
Ficou junto da porta e esperou pelo momento certo para falar com a mãe. Quando esta o viu, deixou as sertãs e perguntou-lhe:
— O que se passa, filho? Já tens fome?
Hanoch não respondeu. Sentia-se desconfortável.
— Porque estás tão calado, querido? — insistiu a mãe. — Não te sentes bem? Diz-me o que se passa.
— Não estou doente, mamã.
— Nesse caso, o que traz à cozinha no meio da minha azáfama? É melhor ires brincar.
Hanoch foi até junto da mãe e segredou-lhe:
— Hoje é véspera do Yom Kippur e venho pedir-te que me perdoes.
— Perdoar-te, filho? Porquê? Que pecado cometeste?
— Talvez te tenhas esquecido, mamã. Foi quando tiveste aquela dor de cabeça, e estavas deitada. Pediste-me que guardasse as galinhas na capoeira. Prometi-te que o faria, mas fui brincar com as outras crianças. Fui andar com elas de bicicleta e esqueci-me das galinhas. E cinco galinhas foram encontradas mortas na manhã seguinte. Não te disse nada naquela altura porque me sentia muito infeliz.
Enquanto falava, Hanoch tinha lágrimas nos olhos.
— Mas hoje tive de te contar e pedir-te que me perdoes.
A mãe olhou para ele com amor e beijou-o.
— Claro que te perdoo!
O menino abraçou-a e, com o coração já bem mais leve, foi brincar.

*O Yom Kipur ou Kippur é um dos dias mais importantes do judaísmo. No calendário hebreu começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que coincide com Setembro ou Outubro), continuando até ao pôr-do-sol seguinte. Os judeus observam tradicionalmente esse feriado com um período de jejum e orações.

Levin Kipnis
Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966
tradução e adaptação

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