Encontrei este artigo numa revista que tinha guardado e entendi partilhá-la convosco...
A «Diligência» é uma palavra pouco usada e quando é
usada, restringe-se, normalmente, aos meios e ambientes judiciais, todavia
encerra em si uma grande riqueza, quer de conteúdo, quer de valor.
A diligência é uma das sete virtudes do
Cristianismo, a virtude humana de seguir e atingir um objetivo na vida de forma
cuidadosa e atenta, esforçando-se na aplicação dos meios para fazer acontecer o
que urge ser feito e da melhor forma possível.
A palavra «diligência» vem do verbo latino diligere, que significa «amar». E diligens (diligente) significa «aquele que
ama».
A pessoa diligente age com amor e prontidão
(diferente de pressa), procurando o bem e predispondo-se a atingi-lo.
Diligência é a capacidade de combinar persistência criativa e esforço
inteligente com competência e eficácia, para alcançar um resultado honesto
dentro do mais alto nível de excelência e eficácia. Ser diligente é fazer o que
precisa ser feito, é não perder tempo, não acomodar-se ao “mais fácil”, não
buscar desculpas, não adiar. A diligência pressupõe uma atenção esmerada e
cuidadosa para apreciar o valor dos deveres a cumprir e para os escolher
conscientemente, como fruto de uma reflexão atenta e ponderada.
Fruto da reflexão
Uma pessoa diligente é uma pessoa de reflexão. Só
quem pensa serenamente nos seus deveres, na maneira de conjugá-los, nas
prioridades que entre eles deve estabelecer, nos passos necessários para os
executar é que possui o controlo da ação e do tempo. Viver com diligência é
saber aproveitar cada dia e não ser uma marioneta puxada aos solavancos pelas
cordas do nervosismo e da imprevidência. A diligência necessita do solo fecundo
da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a perguntar a
nós mesmos: Porque faço isto? Como é que o estou a fazer? Estou a fazer
realmente o que devo e do melhor modo? O homem moderno é pobre em
interioridade: medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que
num dado momento da sua vida, talvez quando já chegou longe demais, se lhe
tornem claras, como um soco na consciência, as palavras de Santo Agostinho:
«Corres bem, mas fora do caminho.»
Antídoto para a preguiça
A diligência é o melhor antídoto para a preguiça.
Nos dias de hoje é muita e constante a tentação da preguiça, de cair na rotina,
em vez de ter a coragem de agarrar com firmeza o leme da vida e controlar
energicamente o rumo da navegação. Onde a preguiça cava um abismo, a diligência
ergue uma montanha. O preguiçoso é aquele indivíduo avesso a atividades que
mobilizem esforço físico ou mental, de modo que lhe é conveniente direcionar a
sua vida a fins que não envolvam maiores esforços. Em confronto com a preguiça,
a virtude da diligência consiste no contrário: na procura com amor do bem e na
constante disponibilidade para fazer o melhor em qualquer projeto/tarefa.
Antídoto para o ativismo
A diligência é, também, um bom antídoto para o
ativismo. É comum vermos muitos de nós num ativismo desenfreado. Não paramos um
instante. Vamos de cá para lá, assoberbados de tarefas, numa incessante corrida
atrás do tempo, que sempre nos falta. As ocupações envolvem-nos como que num
remoinho e impedem-nos de sermos donos de nós mesmos. O “correr” domina-nos
como um cavalo sem freio, do qual perdemos as rédeas. Pelo contrário, uma
pessoa diligente aproveita e usa o tempo para uma reflexão atenta e ponderada,
experimentando e afirmando que só há amor (diligência) quando se sabe apreciar
e escolher alguma coisa depois de uma reflexão esmerada e cuidadosa. Não é diligente
quem se precipita mas quem pondera o que fazer e como fazer.
Diligência e fé
São vários os passos bíblicos que nos falam sobre a
necessidade de diligência na vida pessoal. Por exemplo, Abraão e Josué foram
chamados a serem uma bênção para eles e para os outros. Aquilo que eles
precisariam de fazer, aquilo que estava em poder de suas mãos, Deus não iria
fazer por eles. Mas o imprevisível estaria nas mãos de um Deus que jamais é
poupado em surpresas. O mesmo se passou com Noé. É óbvio que a fé tem de estar
implícita no ato de acreditar, mas Noé não podia facilitar apesar de saber que
Deus iria cumprir. Ele precisou de se antecipar o suficiente porque um barco
daqueles não poderia ser construído em dois dias de trabalho árduo. Ele
precisou de medir a distância no tempo entre o que precisava fazer e o que Deus
prometeu. Imaginemos que Noé tinha acreditado em Deus mas não tinha sido
diligente em obedecer-Lhe. Imaginemos que ele acreditava que no último minuto
Deus lhe enviaria um barco ou pararia a chuva. Que teria acontecido? Muitas
vezes queremos responsabilizar a fé pelo que já devia ter acontecido e não
aconteceu, ou, então, forçar a fé a fazer o que compete à diligência. É
importante crer, mas a fé só resultará se for acompanhada dos atos de
diligência. Que Deus nos ajude a desenvolvê-la e a pô-la em prática na nossa
vida.
Fonte:Revista
Audácia Junho 2014
Texto:
Abel Dias, professor
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