segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A palavra Diligência

Encontrei este artigo numa revista que tinha guardado e entendi partilhá-la convosco...

A «Diligência» é uma palavra pouco usada e quando é usada, restringe-se, normalmente, aos meios e ambientes judiciais, todavia encerra em si uma grande riqueza, quer de conteúdo, quer de valor.

A diligência é uma das sete virtudes do Cristianismo, a virtude humana de seguir e atingir um objetivo na vida de forma cuidadosa e atenta, esforçando-se na aplicação dos meios para fazer acontecer o que urge ser feito e da melhor forma possível.
A palavra «diligência» vem do verbo latino diligere, que significa «amar». E diligens (diligente) significa «aquele que ama».

A pessoa diligente age com amor e prontidão (diferente de pressa), procurando o bem e predispondo-se a atingi-lo. Diligência é a capacidade de combinar persistência criativa e esforço inteligente com competência e eficácia, para alcançar um resultado honesto dentro do mais alto nível de excelência e eficácia. Ser diligente é fazer o que precisa ser feito, é não perder tempo, não acomodar-se ao “mais fácil”, não buscar desculpas, não adiar. A diligência pressupõe uma atenção esmerada e cuidadosa para apreciar o valor dos deveres a cumprir e para os escolher conscientemente, como fruto de uma reflexão atenta e ponderada.

Fruto da reflexão

Uma pessoa diligente é uma pessoa de reflexão. Só quem pensa serenamente nos seus deveres, na maneira de conjugá-los, nas prioridades que entre eles deve estabelecer, nos passos necessários para os executar é que possui o controlo da ação e do tempo. Viver com diligência é saber aproveitar cada dia e não ser uma marioneta puxada aos solavancos pelas cordas do nervosismo e da imprevidência. A diligência necessita do solo fecundo da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a perguntar a nós mesmos: Porque faço isto? Como é que o estou a fazer? Estou a fazer realmente o que devo e do melhor modo? O homem moderno é pobre em interioridade: medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que num dado momento da sua vida, talvez quando já chegou longe demais, se lhe tornem claras, como um soco na consciência, as palavras de Santo Agostinho: «Corres bem, mas fora do caminho.»

Antídoto para a preguiça

A diligência é o melhor antídoto para a preguiça. Nos dias de hoje é muita e constante a tentação da preguiça, de cair na rotina, em vez de ter a coragem de agarrar com firmeza o leme da vida e controlar energicamente o rumo da navegação. Onde a preguiça cava um abismo, a diligência ergue uma montanha. O preguiçoso é aquele indivíduo avesso a atividades que mobilizem esforço físico ou mental, de modo que lhe é conveniente direcionar a sua vida a fins que não envolvam maiores esforços. Em confronto com a preguiça, a virtude da diligência consiste no contrário: na procura com amor do bem e na constante disponibilidade para fazer o melhor em qualquer projeto/tarefa.

Antídoto para o ativismo
A diligência é, também, um bom antídoto para o ativismo. É comum vermos muitos de nós num ativismo desenfreado. Não paramos um instante. Vamos de cá para lá, assoberbados de tarefas, numa incessante corrida atrás do tempo, que sempre nos falta. As ocupações envolvem-nos como que num remoinho e impedem-nos de sermos donos de nós mesmos. O “correr” domina-nos como um cavalo sem freio, do qual perdemos as rédeas. Pelo contrário, uma pessoa diligente aproveita e usa o tempo para uma reflexão atenta e ponderada, experimentando e afirmando que só há amor (diligência) quando se sabe apreciar e escolher alguma coisa depois de uma reflexão esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita mas quem pondera o que fazer e como fazer.

Diligência e fé

São vários os passos bíblicos que nos falam sobre a necessidade de diligência na vida pessoal. Por exemplo, Abraão e Josué foram chamados a serem uma bênção para eles e para os outros. Aquilo que eles precisariam de fazer, aquilo que estava em poder de suas mãos, Deus não iria fazer por eles. Mas o imprevisível estaria nas mãos de um Deus que jamais é poupado em surpresas. O mesmo se passou com Noé. É óbvio que a fé tem de estar implícita no ato de acreditar, mas Noé não podia facilitar apesar de saber que Deus iria cumprir. Ele precisou de se antecipar o suficiente porque um barco daqueles não poderia ser construído em dois dias de trabalho árduo. Ele precisou de medir a distância no tempo entre o que precisava fazer e o que Deus prometeu. Imaginemos que Noé tinha acreditado em Deus mas não tinha sido diligente em obedecer-Lhe. Imaginemos que ele acreditava que no último minuto Deus lhe enviaria um barco ou pararia a chuva. Que teria acontecido? Muitas vezes queremos responsabilizar a fé pelo que já devia ter acontecido e não aconteceu, ou, então, forçar a fé a fazer o que compete à diligência. É importante crer, mas a fé só resultará se for acompanhada dos atos de diligência. Que Deus nos ajude a desenvolvê-la e a pô-la em prática na nossa vida.

Fonte:Revista Audácia Junho 2014
Texto: Abel Dias, professor

Sem comentários:

Enviar um comentário