A tia-avó da Inês
está doente. Embora tivesse já alguns problemas de saúde, nas últimas duas
semanas a situação piorou substancialmente por causa de uma intervenção
cirúrgica.
A
Inês tem andado bastante preocupada com a tia e o primo, que é seu grande amigo
e muito chegado à avó. Por isso, no grupo de catequese pede que a ajudem a
rezar. Ela sabe que nada mais se pode fazer.
Matilde
comove-se com a sensibilidade da sua aluna. E aproveita para explorar um pouco
o tema da oração, regra geral muito mal entendido:
–
O que é, no vosso entender, rezar?
A
vivaz Cristina responde:
–
É falar com Deus!
–
Mas – prossegue Matilde –, será um falar apenas através de fórmulas feitas?
Filipe
procura esclarecer-se:
–
Tipo pais-nossos e ave-marias?
–
Por exemplo – elucida Matilde.
–
Acho que não – intervém Joel. – Quando tenho algum problema, peço a Deus que me
ajude a resolvê-lo. E com palavras minhas, porque ninguém conhece o meu
problema para inventar uma fórmula para ele…
–
Inês, o que estás a sentir relativamente à doença da tua tia e a tudo o que se
tem passado? – incita Matilde.
A
jovem fica um pouco encavacada e, após breves instantes, responde:
–
Na verdade, estou um bocadinho zangada com Deus porque a minha tia vai piorando
e estão todos muito tristes, cansados e com medo do que possa acontecer. Vou
pedindo a Deus que a ponha boa, só que Ele parece não me ouvir… e isso
chateia-me tanto!
–
É normal e não precisas de ter vergonha por te sentires assim – acalma-a
Matilde. – Moisés também tentou “convencer” Deus a fazer pelo povo de Israel o
que ele considerava ser o certo. E andou para ali com argumentos e mais
argumentos, até ao ponto de quase fazer um ultimato ao seu Senhor. Ele queria
MESMO sentir a presença de Deus naquela altura tão difícil da saída do Egito
(Ex 32-34). Dava a ideia que Deus se tinha eclipsado… E era necessário que Deus
se mostrasse mais forte do que o pecado e a morte. E foi esperto. Não se pôs a
dizer que o povo era muito bonzinho e, portanto, merecia que Deus se lhe
revelasse… Pegou, em vez disso, na fama de misericórdia de Deus, como para Lhe
lembrar que Ele é que era bom e que, embora o povo não merecesse, por causa
dessa bondade seria de esperar um sinal divino. Mas o melhor é pegarem nos tablets e conversarem diretamente com Moisés.
Filipe
dá o pontapé de saída:
–
Moisés, Deus não se ofendeu de estares a argumentar com Ele, porque, realmente,
Ele é que era Deus e tu estavas a armar-te em carapau de corrida…
No
ecrã apareceu a resposta pronta:
–
Não! Deus sabia que os meus argumentos vinham da profundidade da relação que
tinha com Ele e que me permitia dizer todas aquelas coisas…
Cristina
continua:
–
Querias que Deus se revelasse para as pessoas acreditarem n’Ele… e em ti?
–
Sim – aclara Moisés na Bíblia_app –, porque a presença manifesta de Deus no
meio do seu povo é o que o distingue de todos os outros povos. Se essa presença
não for visível, quem é que confia que se trata do povo de Deus?
Joel
acrescenta:
–
E Deus não se aborreceu por estares sempre a insistir no mesmo?
Moisés
explica:
–
Deus nunca se aborrece por alguém Lhe pedir com insistência o que quer que
seja, argumentando sem medo e com total liberdade, porque é assim que se fala
com os amigos.
Inês,
sedenta de algum consolo, indaga:
–
Como te sentiste depois de orar a Deus dessa maneira?
Moisés
replica:
–
Eu pensava que, com a minha oração, ia mudar Deus e que ia levá-Lo a fazer o
que eu queria, mas curiosamente foi Ele que me mudou e me fez compreender
melhor como Ele é. Ele transformou o meu coração! E eu ganhei novas forças.
Matilde
conclui, sublinhando:
–
O mais importante na oração não é se rezamos com palavras compostas por outros
ou com fórmulas nossas; é, isso sim, que sintamos profundamente o que estamos a
dizer a Deus… e que façamos silêncio para o sentirmos no nosso coração e os
outros possam ver isso mesmo. Qualquer relação se faz de diálogo, ou seja, de
falar e escutar.
Texto:
Maria Mendonça
Revista:
Audácia
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