segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Aprender a orar

A tia-avó da Inês está doente. Embora tivesse já alguns problemas de saúde, nas últimas duas semanas a situação piorou substancialmente por causa de uma intervenção cirúrgica.

A Inês tem andado bastante preocupada com a tia e o primo, que é seu grande amigo e muito chegado à avó. Por isso, no grupo de catequese pede que a ajudem a rezar. Ela sabe que nada mais se pode fazer.
Matilde comove-se com a sensibilidade da sua aluna. E aproveita para explorar um pouco o tema da oração, regra geral muito mal entendido:
– O que é, no vosso entender, rezar?
A vivaz Cristina responde:
– É falar com Deus!
– Mas – prossegue Matilde –, será um falar apenas através de fórmulas feitas?
Filipe procura esclarecer-se:
– Tipo pais-nossos e ave-marias?
– Por exemplo – elucida Matilde.
– Acho que não – intervém Joel. – Quando tenho algum problema, peço a Deus que me ajude a resolvê-lo. E com palavras minhas, porque ninguém conhece o meu problema para inventar uma fórmula para ele…
– Inês, o que estás a sentir relativamente à doença da tua tia e a tudo o que se tem passado? – incita Matilde.
A jovem fica um pouco encavacada e, após breves instantes, responde:
– Na verdade, estou um bocadinho zangada com Deus porque a minha tia vai piorando e estão todos muito tristes, cansados e com medo do que possa acontecer. Vou pedindo a Deus que a ponha boa, só que Ele parece não me ouvir… e isso chateia-me tanto!
– É normal e não precisas de ter vergonha por te sentires assim – acalma-a Matilde. – Moisés também tentou “convencer” Deus a fazer pelo povo de Israel o que ele considerava ser o certo. E andou para ali com argumentos e mais argumentos, até ao ponto de quase fazer um ultimato ao seu Senhor. Ele queria MESMO sentir a presença de Deus naquela altura tão difícil da saída do Egito (Ex 32-34). Dava a ideia que Deus se tinha eclipsado… E era necessário que Deus se mostrasse mais forte do que o pecado e a morte. E foi esperto. Não se pôs a dizer que o povo era muito bonzinho e, portanto, merecia que Deus se lhe revelasse… Pegou, em vez disso, na fama de misericórdia de Deus, como para Lhe lembrar que Ele é que era bom e que, embora o povo não merecesse, por causa dessa bondade seria de esperar um sinal divino. Mas o melhor é pegarem nos tablets e conversarem diretamente com Moisés.
Filipe dá o pontapé de saída:
– Moisés, Deus não se ofendeu de estares a argumentar com Ele, porque, realmente, Ele é que era Deus e tu estavas a armar-te em carapau de corrida…
No ecrã apareceu a resposta pronta:
– Não! Deus sabia que os meus argumentos vinham da profundidade da relação que tinha com Ele e que me permitia dizer todas aquelas coisas…
Cristina continua:
– Querias que Deus se revelasse para as pessoas acreditarem n’Ele… e em ti?
– Sim – aclara Moisés na Bíblia_app –, porque a presença manifesta de Deus no meio do seu povo é o que o distingue de todos os outros povos. Se essa presença não for visível, quem é que confia que se trata do povo de Deus?
Joel acrescenta:
– E Deus não se aborreceu por estares sempre a insistir no mesmo?
Moisés explica:
– Deus nunca se aborrece por alguém Lhe pedir com insistência o que quer que seja, argumentando sem medo e com total liberdade, porque é assim que se fala com os amigos.
Inês, sedenta de algum consolo, indaga:
– Como te sentiste depois de orar a Deus dessa maneira?
Moisés replica:
– Eu pensava que, com a minha oração, ia mudar Deus e que ia levá-Lo a fazer o que eu queria, mas curiosamente foi Ele que me mudou e me fez compreender melhor como Ele é. Ele transformou o meu coração! E eu ganhei novas forças.
Matilde conclui, sublinhando:
– O mais importante na oração não é se rezamos com palavras compostas por outros ou com fórmulas nossas; é, isso sim, que sintamos profundamente o que estamos a dizer a Deus… e que façamos silêncio para o sentirmos no nosso coração e os outros possam ver isso mesmo. Qualquer relação se faz de diálogo, ou seja, de falar e escutar.

Texto: Maria Mendonça
Revista: Audácia

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