Profeta, personagem incómodo
Há quem diga que os
profetas de outros tempos davam esperanças ao povo e forças para amar e viver
em fraternidade, para superar a mentira e a opressão, para ser livre e
responsável. Dizem ainda que, agora já não encontramos mais os profetas ao
nosso lado. Onde estarão eles?
De facto, para o
cristão, o profeta já não está entre nós. Não há outro profeta além de Jesus. E
todos os demais que, de alguma forma, recebam esse nome o farão por referência
a Ele, Jesus carrega consigo essa autoridade que define o profeta.
Trata-se de uma
autoridade que não nasce da violência, nem da força, mas do Espírito que possui
o profeta; autoridade que foi reconhecida sem que houvesse dúvida a respeito,
pelos moradores de Cafarnaum, quando viram a forma como Jesus havia libertado
aquele homem possuído por um espírito impuro, e o tinha devolvido a seu ser, à
liberdade. Jesus ensinava com autoridade e não como os letrados.
Aí está a diferença
entre o profeta e o professor. Este segundo ensina aquilo que estudou. Nada
mais faz além de repetir, talvez de uma maneira melhor ou mesmo inovadora,
aquilo mesmo que já foi dito anteriormente. É possível que fale sobre algo
novo, mas isto é fruto do seu esforço.
O profeta, pelo
contrário, é inspirado, iluminado, conduzido e dominado pelo Espírito de Deus e
comunica-se de uma forma nova. E o povo que o escuta sente que o que diz
penetra bem fundo dentro dos seus corações. E, quando chega, torna são e cura,
liberta e reconcilia, dá a vida para sempre. Esse é o sinal mais claro de que o
profeta é autêntico: quando suas palavras e seus actos são fonte de vida para
aqueles que se encontram com Ele.
Jesus é o profeta. E
permanece vivo entre nós. Sua palavra continua ressoando como um eco em nossas
igrejas, na Bíblia que temos em nossa casa e na qual meditamos e oramos com a
Palavra; na vida de tantos homens e mulheres que se comprometeram a ser seus
discípulos, a seguir suas pegadas como sacerdotes, como pessoas casadas,
solteiras e religiosas. Jesus é o nosso profeta. E muitos cristãos, homens e
mulheres de boa-fé são profetas de Deus. Com sua vida anunciam o Deus da vida.
Não há por que sentir angústia. É preciso abrir os olhos para descobrir os
testemunhos da vida e a libertação ao nosso redor.
Talvez a figura do
profeta incomode aqueles que se preocupam mais com o ter do que o ser, não
importa. É muito cómodo ficar de braços cruzados, mas o cómodo não é o bom.
Jesus veio para incomodar, porque, se nos acomodarmos não conheceremos o mundo
maravilhoso que Deus preparou para nós.
Padre Wagner Augusto Portugal
Padre Wagner Augusto Portugal
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